quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O respeitinho pelas bestas negras II

A barragem de artilharia do grupo empresarial mais poderoso do país continua. Depois da vigária Vaz, é a vez de José Maria Ricciardi. O presidente da Espírito Santo Investimentos (ESI) afirma que
"«Temos de evitar a reestruturação da divida o mais possível porque se fizermos perder dinheiro àqueles que nos emprestaram dinheiro, esses não vão voltar a emprestar outra vez», disse José Maria Ricciardi (...)"
Tal como a coleguinha da Espírito Santo Saúde, Ricciardi é mentiroso e serve-se da ignorância militante de quem meneia a cabeça para a frente e para trás, mostrando, à saciedade, que o problema fundamental da cultura política portuguesa é a instituição do respeitinho. Insisto neste ponto: enquanto permitirmos que esta classe de mentirosos compulsivos, de coloração corporativa evidente, se bamboleie pela esfera pública sem escrutínio, o país continuará a saque.

Se retirarmos a carga moral à enormidade proferida pelo presidente da ESI, ficamos com o seguinte: se Portugal decidir reestruturar a sua dívida, impondo condições a quem cobrou juros para comprar Obrigações do Tesouro, ficará, ad eternum, arredado dos mercados obrigacionistas.

Tendo em conta que a afirmação não prevê excepções nem avaliações contextuais - e é na ortodoxia do medo que esta classe rentista deposita a sua confiança e o seu poder - vale a pena ler este paper  do... Banco de Espanha. Sim, o Banco de Espanha, instituição do Eurossistema.

Dos nove casos analisados, não existe UM em que a reestruturação da dívida soberana tenha causado uma perda unilateral e permanente de acesso aos mercados obrigacionistas. Em 2011, todos os países avaliados, incluindo aqueles que entraram em incumprimento, recuperaram esse acesso, de forma total ou condicional. Ricciardi não permite excepções, pelo que a existência de um caso singular de reestruturação seguido de recuperação do acesso já destruiria o argumento. Na verdade, os spreads parecem baixar após a reestruturação, indicando que os "mercados obrigacionistas", essas divindades ocultas, são menos moralistas que Ricciardi e companhia.

Além disso, o incumprimento unilateral não é o pior cenário imaginável. Nas páginas 9-10, lemos o seguinte:

"A crucial factor shaping debt  restructurings  appears  to  have  been  whether  the  sovereign  remained current  on  debt servicing while negotiating with private creditors or whether, instead, the sovereign defaulted on its obligations. The first of these two scenarios corresponds to pre-emptive restructurings, which  tended  to  be  concluded  more  quickly  and  in  more  cooperative  terms,  with  a  larger proportion  of  creditors  accepting  the  government’s  offer,  and  with  a  faster  resumption  of access  to  international  financial  markets.  On  the  other  hand,  sovereigns  in  the  second scenario  secured  larger  debt  relief  from  private  creditors,  pointing  at  the  shift  in  bargaining power  from  private  investors  to  governments  that  may  be  associated  with  the  act  of defaulting."
Portanto, o incumprimento unilateral desacelera a recuperação do acesso a fontes de financiamento, mas não a impede. Ricciardi é, portanto, pouco informado, mentiroso ou sofista profissional. De facto, a ameaça de incumprimento unilateral aumenta o poder negocial do soberano e modifica fundamentalmente a estrutura de poder subjacente a estas negociações. Em bom português, quem tem cu tem medo. E a sede de lucro, tão glorificada pela vigária Vaz, fá-los, aos investidores, pensar duas vezes, se um soberano levantar a ganipa e mostrar que, na verdade, o poder do capital é mais precário do que o aparato mediático pretende fazer crer.

Este relatório é importante porque estrutura a sua realidade de acordo com a lógica neoliberal. Não precisamos de concordar com ela para usá-la no sentido de mostrar que verdugos como Ricciardi nem sequer conseguem ser coerentes com a lógica que defendem; basta-nos olhar para dados empíricos, apesar de mal interpretados, e percebemos que todas estas efabulações não passam de estratagemas para desinformar a população portuguesa e meter-lhe medo. Se quisermos ir mais longe, e devemos fazê-lo, isto já não chega; temos mais e melhores argumentos. A perda de soberania é inteiramente voluntária e reversível.

Se tivermos vontade de questionar estes produtores de verdade, a informação está aí. Servem-se da honestidade fundamental de quem trabalha para defender os sistemas de extracção de renda que lhes garantem as mansões e os veleiros. Já chega.

Um cântico de Natal para banqueiros



No interior da sede do Bank of America, um cântico de Natal contra os banqueiros, os seus bónus chorudos e a sua inesgotável cupidez.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O respeitinho pelas bestas negras

Isabel Vaz volta a atacar. Numa entrevista extraordinária ao Diário Económico, a administradora da Espírito Santo Saúde revela o seu credo:
""É por essa mentalidade, do medo do lucro, quando o lucro é o que faz a sociedade andar, que continuamos um país atrasado", defende."
A religião da classe capitalista portuguesa revelada em todo o seu fulgor. Uma religião da desigualdade, do socialismo para os ricos e do mercado livre para os pobres. Num dos países mais desiguais da Europa ocidental, esta sacerdotisa psicopata - já basta de sermos politicamente correctos e mantermos um respeitinho bolorento - usa a tribuna concedida pela pseudo-imprensa económica para inventar um mundo onde a saúde será um negócio tão lucrativo quanto o tráfico legal de armas. É isto que a vigária Vaz pretende. E é por isto que mente, ao afirmar:
"Nas PPP o Estado passa para os privados uma quantidade total de riscos. (...)  E tudo isso foi assumido pelo sector privado. O Dr. Vítor Gaspar inscreveu uma verba no Orçamento, que é exactamente quanto lhe vai custar."
Uma busca na Internet, esse repositório de informação que não deve agradar a gentalha deste calibre, permite-nos encontrar um relatório da DGTF acerca das Parcerias Público-Privado, onde uma matriz de risco do hospital de Loures, tema central da entrevista que cito, revela que a alocação do risco respeitante a essa PPP não prevê UMA assunção de risco exclusivamente privada. Leiam a página 85. O Estado não passa, para os privados, uma quantidade total de riscos. Os privados é que passam, para o erário público, riscos inerentes a uma operação financeira. É um estratagema útil para quem faz a profissão de fé do capitalismo mas adora o socialismo em segredo. Corporate welfare em todo o seu esplendor. E um estratagema bem sucedido numa sociedade adormecida. Enquanto deixarmos que gente como Isabel Vaz mantenha o monopólio do debate público, a derrota será certa. Quando estes parasitas perceberem que também sabemos ler, que sabemos qual a sua verdadeira identidade, começarão a bater em retirada. Esse dia não chegará de imediato. Mas podemos confrontá-los com dados empíricos. A razão está do nosso lado.

A dita vigária não revela que as PPP são contratos plurianuais e que os compromissos inscritos no Orçamento de Estado para 2012 não contêm a totalidade dos custos associados. São esquecimentos estratégicos. Na realidade, as PPP são sistemas de extracção de renda e depauperação do erário público. Se consentirmos na sua continuação, o Estado liberal-paternalista completará a sua metamorfose em Estado neoliberal. Um conjunto de instituições ao dispor de um número limitado de corporações e respectivos verdugos. Que legitimará um estado permanente de excepção e opressão. O caminho da servidão como sonhado por Hayek, que congeminou este futuro no Mont Pélérin. Porque a dignidade de quem trabalha é menos importante que os Ferraris dos administradores do Grupo Espírito Santo.

Isabel Vaz é uma mentirosa e sabe-o bem. Não tem que se justificar perante quem tem a responsabilidade de questioná-la e eu, pessoalmente, não tenho forma de obrigá-la a responder publicamente por estas mentiras nojentas. Mas posso deixar esta informação aqui e esperar que haja alguém com vontade de ler e questionar esta vara de suínos que nos toma, a todos, por bestas de carga ou hamsters lubrificantes do seu culto ao lucro. Esta vigária é apenas um dos megafones da classe capitalista portuguesa, esse furúnculo nas políticas públicas de desenvolvimento do país: o dinheiro que é injectado na Espírito Santo Saúde não será injectado em projectos de correcção das assimetrias regionais, um dos problemas mais graves de Portugal.

De uma vez por todas, basta de mantermos as luvas de seda. É preciso jogar no ringue desta classe peçonhenta e golpeá-los onde lhes dói: na legitimidade automática. Para isso, é preciso extinguir o respeitinho.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro


Este texto foi publicado hoje no Facebook pela sua autora.

Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

Boicote ao Pagamento dos Transportes Públicos

panfleto (para imprimir e distribuir):
A partir de 1 de Janeiro de 2012 começa um Boicote ao Pagamento de Transportes Públicos.

Os objectivo deste boicote são:
- Continuação dos passes 4_18, sub23 e sénior.
- Anulação dos aumentos tarifais de Agosto
- Continuação de todas as carreiras e horários/ não à supressão.

Muitos estudantes dependem do passe para se deslocarem para a escola. O seu fim é uma mais um ataque brutal ao orçamento familiar, que já é reduzido face aos cortes nos rendimentos e ao aumento do custo de vida. Milhares de jovens passam fome e são obrigados a abandonar os estudos! Por outro lado, o fim do passe sénior é um atentado à dignidade dos idosos. Milhares de idosos vivem numa situação de miséria com pensões baixíssimas e o fim dos transportes para eles é mais um sacrifício incomportável.

E, apesar de todos os aumentos brutais, a qualidade dos transportes é cada vez mais degradante. A supressão de carreiras impede as população de se deslocarem para o centro. Deste modo, as pessoas serão obrigadas a recorrer a empresas de transporte privadas que irão praticar preços elevados. O governo não tem ouvido os protestos contra a austeridade; tem ignorado o povo e imposto sacrifícios em benefício dos Bancos. Não chega refilar- é preciso subir o volume do protesto!

É preciso apoiar e divulgar esta informação - o sucesso do Boicote ao Pagamento dos Transportes Públicos depende de todos nós! O boicote consiste em ocupar os transportes públicos sem validar, sem comprar títulos de viagem, sem pagar mensalidades e sem pagar multas. Estratégias como fugir à fiscalização, fornecer moradas falsas no momento do auto e protelar indefinidamente o pagamento das multas são formas de desobediência pacífica e aceitáveis. FAÇAMOS NÓS OS CORTES, EM JANEIRO NINGUÉM PAGA TRANSPORTES!

Passa a palavra,  publica,  partilha, imprime, divulga!

Estão disponíveis ainda o blog e página no Facebook para melhor divulgação:
Facebook: http://www.facebook.com/events/142937589143789/
Blogspot: http://boicotetransportes.blogspot.com/
 
Consulta o blog e informa-te melhor acerca da legislação dos transportes colectivos.

sábado, 17 de dezembro de 2011

«Melhores blogs 2011»


Foi-nos comunicado esta tarde que o Portugal Uncut foi nomeado, pelo programa «Combate de Blogs», na categoria «Blog Revelação 2011». O anúncio oficial será feito hoje, na emissão que irá para o ar, na TVI24, às 23H, mas a votação, para as diferentes categorias, já está aberta AQUI.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Só nós


«Salvo catástrofe natural (e mesmo as consequências podem ser minoradas), tudo o que acontece aos humanos é obra de humanos. Tudo aquilo que é mau nas sociedades humanas, e tudo o que se consegue fazer de bom, saiu de nós. De uma maneira ou de outra, aquilo que humanos conseguem fazer, outros humanos conseguem desfazer. A "ganância estúpida" que Keynes lamentou em 1919 é humana. A "prudente generosidade" que Marshall concretizou após 1945 também. Exigir o pagamento de dívidas até toda a gente se lixar é humano. Perdoar dívidas para suster um dano maior também. A escravidão e a abolição, ambas humanas. Os humanos podem escolher. O que foi feito na Europa nos últimos tempos tem que ser invertido, e depois reformulado. Tudo o que é antidemocrático, absurdo e irrealista pode ser substituído por coisas democráticas, que façam sentido e que sejam sustentáveis. E quem tem que fazer isso somos nós. Porquê? Porque os marcianos não virão cá fazer por nós. Porque os mortos já não podem. Porque os vindouros ainda não podem. Não há mais ninguém: só nós.»

Do luminoso ensaio de Rui Tavares no Público de hoje (que merece ser lido na íntegra), acerca das ameaças que pendem sobre a Europa e as lições que o passado nos oferece para as evitar. Um texto inspirado na visão nocturna de Paris que, a partir do céu, deixa perceber o «pequeno alfinete dourado espetado nas luzes da cidade». Depois da Exposição Universal de 1900, para a qual se construiu, a Torre Eiffel foi objecto de um debate sobre o destino que lhe devia ser dado, havendo quem defendesse o desmantelamento, em 1909, da engenhosa estrutura metálica. Invocando a sua utilidade científica (para observações meteorológicas e instalação de sistemas de comunicação sem fios), Gustave Eiffel conseguiu salvá-la da destruição. Tal como Paris seria hoje irreconhecível sem a sua «dama de ferro», também a Europa o será, se permanecer por mais algum tempo nas mãos dos principais irresponsáveis que a têm conduzido.

(Publicado originalmente no Ladrões de Bicicletas)

'Plataforma 15 de Outubro' devolve prendas de Natal ao Governo

Personalidade do ano 2011


Notícia aqui.

Populismo selectivo

Espera-se que Duarte Marques, líder da JSD, que se revelou tão afoito na defesa do apuramento de responsabilidades criminais dos agentes políticos «pela situação económica do país», já esteja a reunir documentos e a preparar um dossier sobre o processo de transferência dos fundos de pensões da banca para o Estado.
É que se trata de um negócio que constitui, ao mesmo tempo, uma forma deliberada de descapitalização da Segurança Social e mais um passo no descarado benefício do sector financeiro. De facto, os dois mil milhões de euros resultantes desta transferência não só não vão directos para os cofres da Segurança Social, como seria expectável (servindo antes, por decisão do governo, para «injectar liquidez na economia»), como se imputa ao sistema público de pensões uma pesada responsabilidade, que adia «para as gerações futuras o pagamento de compromissos assumidos no presente». E, como se não bastasse, ao abrigo desta despudorada negociata, permite-se que os custos – para as instituições financeiras – decorrentes da transferência, possam ser abatidos no seu lucro tributável, durante um período de 10 a 20 anos.
Em coerência, exige-se portanto que Duarte Marques agende novamente, em breve, uma audiência com o Procurador Pinto Monteiro, levando consigo este assunto e sugerindo, como fez no passado recente, que se está perante indícios criminais que apontam para «a irresponsabilidade daqueles que de forma óbvia e deliberada, movidos por interesses mais ou menos obscuros, atentaram vergonhosamente contra a nação». É que, tal como o sol, a demagogia e o populismo oportunista deviam, no mínimo, nascer para todos.

(Publicado originalmente no Ladrões de Bicicletas)

Um novo jubileu



Steve Keen, um economista a ler e reler (vale o esforço), defende um jubileu como primeiro passo para uma solução sistémica. Mesmo que não se concorde com a terminologia ou a exequibilidade, é mais um prego no caixão da estafadíssima ideia de que não há alternativas.

É disto que precisamos, na minha opinião. De rebater as parvoíces reaccionárias e moralistas com um argumento moral e respectivas extensões técnicas. Porque o problema da dívida é, no seu cerne, moral. E, enquanto não decidirmos olhar para ele de forma moral e simbólica, enquanto reduzirmos o problema a soluções matemáticas e engenharias regulatórias, será impossível encontrar um caminho que nos motive. Até hoje, as rupturas sociais não foram dominadas por equações, mas por proposições morais.

E uma citação:
"Então façam soar a trombeta no décimo dia do sétimo mês; no Dia da Expiação façam soar a trombeta por toda a terra de vocês. Consagrem o quinquagésimo ano e proclamem libertação por toda a terra a todos os seus moradores. Este será, para vós, um ano de jubileu, quando cada um de vocês voltará para a propriedade da sua família e para o seu próprio clã." Levítico, 25: 9-10


sábado, 10 de dezembro de 2011

Terramotos

Em «O pequeno livro do grande terramoto», Rui Tavares descreve a forma como o moralismo religioso justificou a hecatombe que se abateu sobre Lisboa em 1755. As ondas do tsunami, o estremecer das entranhas da terra e os incêndios que devoraram a cidade não eram mais do que a expressão da justiça divina, que desse modo castigava o alastrar do pecado e do vício.
Poderá hoje dizer-se que esta explicação metafísica nasceu da incapacidade para compreender as causas de uma catástrofe natural (a teoria da tectónica de placas surgiria, de facto, apenas cerca de um século mais tarde). O insuportável vazio foi ocupado pelo obscurantismo, que a ausência de explicações alternativas, racionais, legitimou.

Um terramoto abala hoje a Europa e (de uma forma que até há muito pouco tempo diríamos não ser possível) os seus alicerces mais sólidos. Para os tecnocratas moralistas, a crise que a União atravessa não é senão a consequência do vício do endividamento, em que incorreram Estados irresponsáveis. Por isso se impõe penitência e disciplina. Por isso os incumpridores devem ser obrigados a abdicar da sua soberania e da própria democracia.
O futuro olhará para estes dias negros com a mesma perplexidade e estranheza com que hoje se encara a explicação moralista do terramoto de 1755. Mas com substanciais diferenças. Conhecemos bem as causas da catástrofe (uma crise financeira resultante da desregulamentação dos mercados, que expôs as fragilidades de uma zona euro disfuncional e de uma integração económica europeia assimétrica). E sabemos que o reforço continuado da fracassada receita austeritária apenas contribui para o agravar da situação, tal como temos noção dos caminhos que podem inverter a vertigem da crise (políticas expansionistas coordenadas, estímulo do crescimento e do emprego, e uma governação económica europeia que dote o BCE de plenos poderes, a par da regulação dos mercados financeiros, capaz de travar a especulação em dominó sobre as dívidas soberanas).

Ao contrário de 1755, o obscurantismo que a actual crise desencadeou é portanto mais complexo e incompreensível. Atravessa os moralistas obstinados e os seus mais fanáticos acólitos. Mas afecta igualmente aqueles que, tendo já compreendido a cegueira irracional que nos conduz para o desastre, respondem com a resignação e o silêncio. O Conselho Europeu que ontem teve lugar é a mais clara ilustração disto mesmo.

(Publicado originalmente no Ladrões de Bicicletas)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rompuy, o empalador da democracia

Diz-se, por aí, que sexta-feira é o dia da verdade para a União Económica e Monetária. Pode ser. Pode não ser. Na realidade, as decisões relevantes já estão tomadas. No entanto, vão surgindo dados que nos ajudam a posicionar actores e clarificar perspectivas. O anúncio da Standard and Poors, por exemplo, que é mais um exemplo do carácter destas agências e das possibilidades e limites da auto-regulação, essa panaceia neoliberal que se transformou em fúria autofágica. Ou o relatório de Herman van Rompuy, esse burocrata apagado que emergiu, nos últimos tempos, como estrela do firmamento europeu. É um dos proponentes da pax brusselica. Não se trata de um exagero.

Vejamos. Cortesia do FT, temos acesso ao relatório produzido por esta figurinha suspeita, apagada e de ar patético, a pedido da Comissão e do Eurogrupo. É um tesouro tenebroso. E um mapa da mundividência eurocrata. A nossa imprensa focou os pontos sensacionais: euro-obrigações e automatização da austeridade. Esqueceu-se de reparar no tom e nos detalhes. Sabemos que algo está a passar-se em Bruxelas quando "intrusivo" é o adjectivo mais utilizado num relatório, ainda que confidencial. E não pode ser nada de bom. Mesmo que tenha pouco de novo.

Algumas citações seleccionadas (ênfase meu):
"(...) euro area Member States have taken on additional commitments within the framework of the Euro Plus Pact in four areas that are key for convergence: competitiveness; employment; sustainability of public finances; financial stability. These new instruments must now be implemented forcefully."
Para quem acompanha a política comunitária (curiosa designação para um bloco cada vez mais bipolar), a ideia de que os instrumentos acordados no âmbito do Pacto Euro Plus devem ser "vigorosamente implementado" só pode emergir da cabeça de alguém com um distúrbio.
"To restore market confidence in the euro area and to ensure the political sustainability of solidarity mechanisms, it is crucial to enhance the credibility of our budgetary rules (deficit and debt levels) and to ensure full compliance. This is likely to require a change in primary law."
Para facilitar a compreensão: a confiança dos "mercados" deve ser restaurada através da transformação coerciva dos ordenamentos jurídicos nacionais. Já não estamos a falar dos mecanismos de transposição, acordados pelos Estados-Membros e cuja implementação, podendo ser discutida, é liderada pelos parlamentos nacionais. Aqui, diz-se à realidade dos ciclos económicos "vai á fava" e proíbem-se as recessões. Ou melhor, ata-se a única mão que os governos tinham para estabilizar as economias e deixa-se um dedinho livre para fazer cócegas à banca.
"A resolute convergence towards balanced budgets from current positions should be envisaged for euro area Member States in line with a calendar established with the Commission. In addition, the Protocol would also include the obligation for euro area Member States to include such a rule in their national legal systems, preferably at constitutional or equivalent level. The Court of Justice would have jurisdiction to control the transposition of this rule at national level."
As constituições democráticas, em países como Portugal, Espanha e Grécia, são conquistas civilizacionais. A sugestão de que um dos documentos fundadores da comunidade política e cristalizadores da ordem democrática pode ser alterado para acomodar necessidades anti-democráticas - porque aquilo que está em causa é o direito dos investidores à remuneração do capital - é repelente. Será uma das vitórias da classe capitalista portuguesa, esse mar de competência, empreendedorismo e inovação. E um dos gáudios da classe reaccionária, que precisa de tomar um anti-histamínico quando fala do Preâmbulo à CRP. Por mim, imitava-se a Noruega, cujo feriado nacional é o Dia da Constituição. Só para ver a cara do sujeito que ocupa Belém. E para celebrar algo que ainda me faz prezar a minha identidade nacional.
"This would allow for a higher degree of precision of the measures to be adopted by the Member States, in close partnership with the Commission, which could review and endorse the programme put forward by the Member State. The overall objectives set out in a Commission or Council act could be binding as to the results to be achieved."
E, como cereja no topo do bolo, venha a governação proto-colonial. A imposição de uma ordem moral autofágica já cá andava. Até temos a quinta coluna. Basta ver o que escrevem para-intelectuais orgânicos como Vítor Bento, Vasco Pulido Valente ou os moscardos fresquinhos que se alimentam das suas carcaças e procuram um lugar ao sol. "Quem paga manda", dizem. "Não há alternativas", repetem. "É preciso pagar as dívidas, só gente desonrada não o faz", peroram. É evidente que não acreditam nas palavras que vomitam. Se acreditassem no colapso, já tinham desandado. Talvez para perto aqui de Rompuy, o empalador da democracia.

Dito isto, é claro que o Tribunal Constitucional alemão, conhecido por ainda ter uma espinha dorsal, não aceitará coerções deste género. E a vontade, já emanada de Berlim, de vincular os 27 a um novo tratado esbarrará no nacional-banalismo Tory. Eleitorados são eleitorados.

Contudo, se este documento indica algo, é a de que o tumor neoliberal está a criar metástases. E a solução, para esta trupe circense, é injectar plutónio no Estado social e na democracia. Não é para curar. É pelo gozo.




terça-feira, 6 de dezembro de 2011

TVI recebe Macedo - As perguntas que se querem respondidas



Acabei de saber que amanhã o ministro Miguel Macedo irá ser entrevistado na TVI24.
Confio que a TVI saberá escolher um jornalista competente que faça correctamente o seu trabalho e que lhe coloque as perguntas certas.
Esperando contribuir para que esta iniciativa não seja uma conversa de café decidi escrever por forma a sintetizar o que lhe deve ser perguntado. Pode ser que chegue aos olhos do jornalista e ele ou ela poupem algum trabalho.

Sobre os acontecimentos da Calçada da Estrela:

Versão policial:
Foi detido um cidadão alemão por polícia à paisana porque era procurado pela Interpol, tinha agredido barbaramente um polícia junto às grades que ficou ferido com gravidade e porque este "alemão" era procurado por outra agressão à polícia na Alemanha.

Factos:
O ministério público informou hoje que o "alemão" não era procurado pela Interpol e que não havia qualquer caso pendente na Alemanha. A polícia sempre informou que naquele dia tinha ficado UM e só UM agente ferido com gravidade. O agente ferido na Calçada da Estrela é esse polícia ferido, esteve a ser assistido no local pelos seus companheiros e foi transportado numa ambulância.

Perguntas:
Porque é que a polícia disse que o detido era procurado pela Interpol?
Porque é que a polícia disse que o detido tinha agredido antes da detenção um polícia de forma bárbara?
Porque foi efectivamente detida essa pessoa?
Como confiar nos relatos que a polícia faz? Se a polícia mente quando presta declarações no dia seguinte aos acontecimentos, sem pressão, como se pode manter confiança política nos seus comandantes?


Sobre a actuação do dia 24 no Parlamento.

Versão policial:
Houve um grupo de pessoas que deitaram as grades abaixo e a polícia actuou de forma proporcional, contida e competente para sanar o problema e garantir que a AR não fosse invadida.
Houve manifestantes que foram violentos e a polícia usou o bastão e procedeu a detenções.

Factos:
De todos os vídeos, testemunhos e fotos constata-se que as grades caíram, que houve pessoas que tentaram ocupar de forma exaltada mas pacífica as escadarias e que a polícia intervêm à bastonada para garantir o estabelecimento do perímetro de segurança inicial.
Nas fotos em que são vísíveis "manifestantes" a entrarem em "vias de facto" com a polícia são claramente identificados dois homens um com casaco azul e outro com casaco castanho que noutras fotografias estão a prender manifestantes e um jornalista do jornal i.

Perguntas:
O que faziam policias à paisana dentro da manifestação? Isto é normal num estado democrático?
E porque estavam esses polícias exactamente no local dos confrontos e a tomar posições activas na contenda?
O que se entende por uma acção contida, proporcional e competente por parte das forças policiais quando as acções mais violentas são perpetradas por polícias à paisana?


Sobre a exemplar actuação da polícia e as infiltrações

Versão policial:
A polícia usa sempre a força proporcional e nunca usa agentes infiltrados, tal não vem previsto na lei. A polícia teve um comportamento exemplar.
Guedes da Silva informa que a polícia estará presente "e poderá ser mais dura". E ameaça ainda que "é para isso que cá estamos e o equipamento é para ser usado".

Factos:
Há vídeos e fotos que demonstram a presença activa de agentes à paisana na manifestação de dia 24 de Novembro e de 15 de Outubro.
Os agentes à paisana, no dia 15 de Outubro, na primeira linha da manifestação em São Bento gritam "Fascistas, fascistas, deviam estar aqui!" e "Filhos da P***" para os colegas, enquanto abanam violentamente as barreiras de protecção. Estes agente tornam-se "pacificadores" quando a barreira policial é quebrada e a escadaria policial é pacificamente ocupada. (ver vídeo postado ontem- via 5 dias).
Os policias da agressão na Calçada da Estrela do dia 24, conjuntamente com os seus bastões retracteis voltaram a entrar para dentro da manifestação.
Os agentes à paisana presentes no dia 24 de Março na frente da tentativa de ocupação de escadarias entram em confrontos com os seus colegas policias quando eles intervêm.

Perguntas:

Qual o sentido de colocar policias à paisana numa manifestação num estado democrático? Qual o objectivo?
Onde fica a linha entre prevenção de actos violentos e a interferência nos legítimos movimentos de contestação social?
O que vai fazer relativamente aos agentes à paisana, infiltrados nas manifestações e que têm papel de agentes provocadores na primeira linha da manifestação?
Porque foi tão célere o comando da polícia e o ministro a concluir que a actuação policial tinha sido exemplar quando no dia seguinte surgiram tantas provas de situações mal explicadas e de falsidades nos relatos dos acontecimentos? Porque abriram um inquérito de averiguações quando já tinham as conclusões?
Compactua com o tom de ameaça que o (ainda) comandante Guedes da Silva utiliza?

Pergunta final que se impõe: Quando entrega a sua carta de demissão? Quanto tempo vai manter Guedes da Silva à frente da polícia?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não esquecemos ... e agora só resta a demissão!

Depois da sessão de ontem no combate de blogs novas provas factuais vieram a lume pela mão do Renato Teixeira do 5dias .



Neste momento já poucas explicações são necessárias é preciso que os actos tenham as consequências devidas.


Como adenda de todos os factos que referi ontem ficam as provas das ocorrências:

Manifestação Anti-NATO (Novembro de 2010), como uma manifestação pacífica receber este tratamento:


Retirado da PAGAN

Manifestação do 1º de Maio em Setúbal, sem comentários...





Retirado do Spectrum



Invasão da ES.COL.A no Porto em Maio, okupação que devia ser incentivada como se pode ver no vídeo.


Através da uncutter Gui.


Detenções na acampada do Rossio em 4 de Junho:







Piquetes da Greve geral em Oeiras, actuação ilegal alegando serviços mínimos que não foram requisitados e demonstração de força excessiva.



sábado, 3 de dezembro de 2011

Andróides neocalvinistas

Pegando num post de Paul Krugman, e lendo a imprensa económica portuguesa, parece que vivemos num filme de Sam Raimi, desta feita realizado por alquimistas e charlatães com cursos de economia neoclássica. Ou por escrevinhadores em blogues comicamente reaccionários.
A lenga-lenga reza assim: era uma vez um mundo encantado. No sul, havia sol a mais, as pessoas não gostavam de poupar e ainda menos de trabalhar; preferiam ir para o café, beber até cair e arrotar. Gente improdutiva, portanto. No norte, os paladinos da eficiência, poupadinhos e polidos, fizeram tudo o que deviam. Até que alguém, certo dia, se lembrou de que esse mundo devia competir com outro, do lado de lá do mar. A melhor maneira, disseram os sábios, era fazer com que toda a gente, bebendo copos ou trabalhando, usasse a mesma moeda. Como a moeda não é uma construção política, mas tão natural como a chuva, ninguém achou precisar de uma autoridade para corrigir os problemas que surgissem. É evidente que os sábios não consultaram os cidadãos acerca destes problemas; já se sabe que uns bebem vinho e outros trabalham até cair; não havia tempo para delírios desses.
Está claro que a coisa tinha tudo para correr bem: bastava que toda a gente aspirasse pozinhos de perlimpimpim e se transformasse em andróides neocalvinistas. Mas nem tudo correu bem. Aliás, correu tudo mal porque o sol, o vinho e o carácter pecador da gente meridional destroçou o compromisso. Era uma moeda para todos dominar, perdão, ajudar. Os bancos bem tentaram, mas a coisa também não correu bem. Pobrezinhos, acabaram por preferir lucros fáceis através de produtos derivados e práticas predatórias, em vez de investir na economia produtiva. E, é claro, já ninguém se lembra dos anos 2007-2010; os pozinhos de perlimpimpim causaram uma ataque de amnésia. Os sábios de barba branca decidiram que a culpa era dos bebedores de vinho e era preciso bater-lhes até se transformarem em trabalhadores poupadinhos.
É uma história bonita. E verosímil.

Até alguém se ter lembrado de ir ver dados concretos:


Até eu, que não sou economista ou particularmente versado em estatística, consigo ver que as balanças de pagamentos começam a seguir um padrão após 1992 e que esse padrão se acentua após 1998-2002. A não ser que os alquimistas tenham descoberto que alguém envenenou os depósitos de água no Mediterrâneo e que a população espanhola, grega, italiana e portuguesa se tornou num oceano de zombies viciados em crédito, isto indica que existem desequilíbrios estruturais. Tive um professor que chamou, a isto, o "teste interocular". Ou seja: vejam aquilo que está à frente dos olhos antes de proferirem juízos.


Quem diria? Parece que os neocalvinistas virtuosos não existem. Em 2001, Alemanha, Áustria, Espanha e Portugal tinham rácios de dívida pública líquida idênticos. Não vou debater o problema da dívida privada, porque é melhor não entrar em discussões sobre a financeirização do turbocapitalismo predatório, viciado em extracção de renda às famílias, e a incompetência da classe capitalista portuguesa. Numa palavra: Europarque.


Dois testes interoculares: em 2000, qual era o país com a menor dívida pública bruta em percentagem do PIB? Há quantos anos está a Alemanha em violação expressa do Pacto de Estabilidade e Crescimento?



Data from World Bank
E ainda outro teste interocular: a partir de que ano se vê um desemparelhamento completo entre os bêbados e os neocalvinistas?

E ainda outra pergunta: qual é o país que aparece sempre no top 3 da lista de parceiros comerciais de Espanha, Grécia, Itália e Portugal?

E a pergunta para o milhão de escudos: que coisa aconteceu em 1998-2002 e poderá estar na origem destas tendências? (pista: não houve uma deriva despesista:
)

Enquanto continuam a vomitar banalidades acerca da imoralidade fundamental de populações inteiras, os megafones do senso comum tem um efeito mais pernicioso que a criação de ruído e conformismo. Impedem-nos de encontrar soluções. Medina Carreira é um bom exemplo disto. Embora se apresente como especialista em finanças públicas, a sua especialidade é o cilício e a chibata. Trata-se de um vendedor de banha da cobra com um talento inusitado para usar preconceitos historicamente sedimentados e convencer algumas pessoas incautas ou predispostas ao respeitinho de que a culpa é delas, que elas não poupam, que elas são umas vadias, que é preciso cortar tudo. E, embora já tenha sido demonstrado, à saciedade, que nada do que aquela gente diz solucionará algo, eles continuam.

Merkel, Sarkozy e Cameron não passam de trambolhos socializados em circuitos elitistas onde a "populaça" é tida como mesquinha e incapaz de governar ou ser governada; são círculos onde a realidade tem lugar secundário e a divisão do mundo em bêbados e poupadinhos é o quadro de referência dominante. Com as armas propagandísticas de que dispõem, conseguem definir a coerência interna e os limites exteriores do debate. Ficamos à mercê de mundividências autoritárias. E os crápulas do universo comentarístico aproveitam-se disso. Bradam contra a falta de formação da população portuguesa, mas querem acabar com a educação desmercadorizada. Melhor para eles: num país com taxas decentes de literacia, extinguir-se-iam como os ignorantes que são.

E é por isso que o dia 9 de Dezembro não vai trazer novidades, boas ou más. O caminho já está traçado. Resta respirar fundo, cerrar fileiras e resistir. Para que a Europa não acorde amanhã povoada de neocalvinistas.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Não esquecemos, exigimos explicações! II





A polícia (mais uma vez) apresenta uma história esquizofrénica e inverosímil para justificar as acções de repressão em manifestações de protesto

A polícia refere que a razão do uso da força na detenção se deveu a uma agressão por parte do detido. O comando da polícia noticiou SEMPRE que havia UM ferido nas forças policiais e que tal ocorrera junto às escadarias. No início do vídeo aparentemente todos os polícias trajados à civil estão sem problemas físicos. Depois de cair ao chão e sem que se vislumbre qualquer acto de agressão por parte do detido um deles fica claramente debilitado, necessitando de assistência no local e sendo transportado depois numa ambulância.

Muitas perguntas ficam por responder:
Como pode justificar então que a pessoa violentamente detida na Calçada da Estrela foi o agressor de um polícia, quando o polícia é ferido nessa detenção? Qual foi então a razão da detenção?
O agente foi ferido pelo detido, que estava a ser manietado/detido por 3 outros agentes? Ou ficou ferido pela queda no passeio ou ainda por “fogo-amigo” de um dos colegas que tão zelosamente puxaram e usaram repetidamente os bastões sobre o detido?
Como é que o perigoso e violento detido procurado pela Interpol e que alegadamente já tinha ferido um agente policial na Alemanha sai em liberdade no dia seguinte? Se a pessoa que foi detida era de tal forma perigosa que justificava uma acção imediata com aquela violência sobre o pretexto da proporcionalidade não devia haver matéria de facto para se ter mantido detido depois de ser presente a um juiz?
O que se pretendeu com tantas detenções aparentemente sem qualquer justificação? Estamos a tentar criminalizar o protesto?

E em termos mais gerais da actuação policial:
Qual a razão de numa manifestação se sentir a necessidade de infiltrarem polícias? Como se garante a liberdade de manifestação com polícias à paisana dentro dela?
Quem são as pessoas identificadas em vários sites que estão à frente da tentativa de invasão das escadarias e no momento seguinte estão a prender pessoas?
Porque há sempre relatórios de “perigosos extremistas e radicais violentos” antes de qualquer manifestação? Tal aconteceu antes da manifestação anti-NATO, antes da manifestação de 15 de Outubro e agora no rescaldo da manifestação do dia da Greve Geral.

A RTP estava lá, mas não noticiou!

Qual é o critério jornalístico ou editorial que leva a RTP a decidir não passar as imagens mais fortes e mais violentas da agressão policial feita por elementos vestidos à civil, apesar de ter lá estado e a não fazer uma investigação jornalística sobre que se passou?
Porquê só dois dias depois dos acontecimentos e apenas depois de um vídeo caseiro espalhado na internet e da divulgação desse vídeo por parte da TVI primeiro e da SIC logo após (que não estavam lá) se transformou este assunto em notícia?
Estas perguntas são ainda mais relevantes quando falamos de um serviço público com planos de privatização em que o mentor “iluminado” do estudo dessa privatização defende abertamente um “certo” tipo de censura.

O ministro mentiu ou é incompetente, só resta uma opção: Demissão!

O que leva um ministro a dizer que não há agentes infiltrados na manifestação quando há inúmeras fotos, vídeos e testemunhos do contrário? Ignorância ou mentira?
O que leva um ministro a afirmar que a polícia agiu correctamente e a desdizer-se automaticamente no dia seguinte ao informar que vai ser aberto um inquérito sobre o espancamento e a detenção na Calçada da Estrela? Ignorância ou mentira?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

24 de Novembro - Quem são os violentos?

A Plataforma 15 de Outubro, internacionalista, apartidária e pacífica, reivindicando a reposição da justiça e da verdade no que diz respeito aos eventos do dia 24 de Novembro, declara:
  1. Testemunhámos e denunciamos a presença de polícia não fardada e não identificada na manifestação de 24 de Novembro em frente a São Bento. Estes elementos, entre os manifestantes, incitaram à violência com palavras e acções, ao contrário do que afirmou inequivocamente o Ministro da Administração Interna. Esta acção da polícia de um Estado de Direito e dito “democrático” configura uma ilegalidade e um crime. A acção da polícia nos piquetes de greve deste dia pautou-se igualmente pela ilegalidade e repressão, tendo-se apresentado nos locais onde se encontravam os piquetes armada com caçadeiras e metralhadoras, além de ter sido enviada polícia de intervenção para atacar e romper os piquetes.
  2. Repudiamos ser, consciente e propositadamente, apelidados de “delinquentes”, “criminosos” e outros adjectivos que claramente configuram um insulto pessoal e colectivo, com o único objectivo de anular a Plataforma 15 de Outubro como sujeito político. Foi impedida a realização da Assembleia Popular prevista para as 18h00, hora em que começaram os distúrbios. Está a ser construída, consciente e propositadamente, uma narrativa de terror social que visa claramente criminalizar o movimento social e os eventos da Greve Geral e manifestação que, tendo sido um grande sucesso, é minorada pela construção de factos e eventos de “violência” por parte das estruturas de poder.
  3. Manifestamo-nos contra a detenção avulsa de pessoas isoladas, outra tentativa de reforçar esta narrativa criminalizadora.
  4. Somos e continuaremos a reivindicarmo-nos como uma plataforma de acção política pacífica e não aceitaremos ser, como colectivo, associados a qualquer acto de violência que cidadãos em nome individual possam cometer na demonstração da sua legítima revolta.
  5. Rejeitamos a inversão total e propagandística da verdade que está em curso, procurando apelidar de violentas pessoas e movimentos que procuram defender os seus direitos e interesses de forma pacífica. A violência das medidas de austeridade é que é indesmentível e por mais cortinas de fumo que por ela sejam lançadas, está à vista de todo o povo. Acusamos o governo de violência, directa e indirecta, sobre o país.
  6. Em resposta a esta campanha vergonhosa, informamos que convocaremos uma nova manifestação, a realizar no final de Janeiro.

Por tudo isto, a Plataforma 15 de Outubro exige:
  • A divulgação pública das provas audiovisuais, filmes e fotografias que demonstram claramente a presença e acção provocadora de agentes da polícia não identificados e não fardados dentro da manifestação que ocorreu no dia 24 de Novembro.
  • A abertura, por parte das entidades competentes, de inquéritos que visem a investigação da acção policial, nomeadamente o uso de violência sobre manifestantes isolados e a instigação à violência por parte de elementos não identificados e não fardados da polícia.
  • Que os meios de comunicação social, que tão prontamente assumiram esta narrativa distorcida dos acontecimentos, dêm espaço às informações que têm vindo a público, cumprindo o seu dever de informar e repôr a verdade dos factos.
  • Que sejam retiradas consequências do facto de terem sido proferidas publicamente inverdades por parte do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que reforçaram uma narrativa que não corresponde comprovadamente à verdade dos factos.
  • Que os detidos no dia 24 de Novembro sejam absolvidos, sendo tido em conta nos seus processos o facto de terem sido detidos de forma ilegal e abusiva através de agentes provocadores que, além do mais, incitaram delitos. Expressamos total solidariedade em relação aos companheiros e companheiras detidos nesse dia.
A criminalização da actividade política e da contestação é um sinal claro dos tempos em que vivemos, em que a Democracia é ameaçada e posta em causa justamente pelo Estado que tem como dever protegê-la. A tentativa de suprimir os acontecimentos históricos que foram a Greve Geral de dia 24 de Novembro e a expressão popular ocorrida na manifestação nesse dia serve de sinal de aviso às forças progressistas. Não permitiremos que vingue a tentativa de fazer com que o medo sufoque a legitimidade das reivindicações populares à dignidade e aos direitos e, como tal, estaremos novamente nas ruas, no final de Janeiro.

Não esquecemos, exigimos explicações!

No dia 24 de Novembro último, dia de greve geral e manifestações de apoio a esta última um pouco por todo o país, uma badalada detenção percorreu — a custo — todos os telejornais.
Por volta das 18h, já de noite, enquanto a maioria dos manifestantes se mantinha em frente ao Palácio de S. Bento, algumas pessoas tinham-se afastado e circulavam na Calçada da Estrela. Entre os transeuntes encontrava-se um membro do Portugal Uncut, Nuno Bio, com alguns amigos e ainda a deputada do BE, Ana Drago.
De repente, alguns gritos chamaram a atenção para uma cena de agressões físicas: um grupo de quatro ou cinco pessoas espancava um rapaz, primeiro sem armas e depois utilizando bastões extensíveis. Os amigos deste último e os transeuntes gritavam por socorro e pela polícia. A cena foi filmada por um telemóvel de quem assistiu — imagens entretanto retiradas do Vimeo, mas que se mantêm no Youtube e que aparecem em todas as reportagens televisivas sobre o assunto — e ainda pela RTP que, tendo imagens suas não deu a notícia.

À chegada dos agentes fardados da PSP os agressores foram afastados da vítima sem qualquer tentativa de detenção, guardaram novamente os bastões e distanciaram-se, enquanto os agentes fardados detinham a vítima, transportando-a para um carro. Percebeu-se, portanto, que eram agentes à paisana. Este facto foi confirmado quando um deles, tendo ficado ferido (não é claro se pela vítima ou por uma bastonada de um colega), foi transportado para o hospital na mesma ambulância que o repórter da SIC agredido violentamente pela polícia nas escadarias da AR. O agente ferido reportado pela PSP é então este agente à paisana envolvido na agressão da Calçada da Estrela.

Durante várias horas os meios de comunicação foram informados do incidente, receberam o vídeo e fotografias, mas não demonstraram qualquer receptividade a dar notícia do acontecimento. Afinal, o espancamento brutal de um cidadão desarmado por polícia à paisana não tem qualquer interesse editorial. Só no dia seguinte, após muita insistência, a TVI decidiu dar notícia do espancamento com entrevista de testemunhos e um pedido de esclarecimento junto da PSP. Depois da primeira notícia os restantes órgãos de comunicação viram-se obrigados a não ficar atrás.
Entretanto, o Ministro da Administração Interna tinha desvalorizado os acontecimentos e elogiado o comportamento da polícia e a PSP reportava um agente ferido gravemente. A sequência das declarações pode ser vista na reportagem da SIC. Nesta última ficamos ainda a saber por declarações da PSP que o detido era alegadamente um cidadão extremamente perigoso e procurado pela Interpol.

Na sexta-feira todos os detidos durante a manifestação foram ouvidos em tribunal. O rapaz detido neste episódio fica a aguardar julgamento em Portugal e em liberdade. Não há, afinal, qualquer processo internacional e a sua perigosidade não é tanta que não possa aguardar julgamento em liberdade. Acusação: agressão de um agente da autoridade e nada que implicasse o anunciado mandato de captura internacional da Interpol. Ficámos assim a saber que a polícia não tem qualquer problema em mentir para a televisão, inventando versões de factos que lhe pareçam favoráveis — mas que, mesmo que provassem ser verdadeiras, nunca explicariam a brutalidade da agressão na detenção de um indivíduo que, como se vê nas imagens, não oferece resistência nem mostra deter quaisquer armas.
Todos os detidos durante a manifestação foram soltos o mais tardar no dia seguinte. Na sexta-feira à tarde já não estava ninguém detido. Nalguns casos as queixas foram retiradas, consideradas improcedentes e noutros aguardam julgamento em liberdade.

sábado, 26 de novembro de 2011

Perguntas inconvenientes

A campanha de desinformação começou. A CGTP é um antro de inúteis. Quem faz greve devia ser despedido. Quem tem emprego devia era ir trabalhar e calar o bico. E porrada? Houve porrada? Ah, noutros tempos, noutros tempos...
De anarcas a alemães, há algo que fica claro: a comunicação tem cada vez menos de social e cada vez mais de política, estratégica e propagandística. Ainda não sabemos se devemos especular acerca do toque a finados do mesmo jornalismo que alguém, certamente odiada pela sarna liberal-paternalista deste país, um dia disse ter a função de vigiar o poder e os centros de poder. Pessoalmente, considero que o aparato mediático português é uma das causas da disfuncionalidade institucional da República. Ainda assim, os ataques à outrance a qualquer voz dissonante - e a cooptação de vozes razoavelmente dissonantes mas inócuas, cuja crítica tem o efeito de reforçar a impressão de democraticidade da esfera pública portuguesa, embora ela seja, e quem participa no combate anti-austeritário sabe-o bem, uma monocultura demente - manifestam uma pulsão repressiva que só pode ser parcialmente explicada pela imersão dos media  em grandes grupos económicos e pela invasão do nexo financeirista: trata-se de algo mais perverso e profundo.

Se as coisas fossem diferentes, talvez pudéssemos ouvir respostas a perguntas desagradáveis e talvez populistas.

Por exemplo, quando Pedro Passos Coelho fala na necessidade de empobrecer, está a referir-se a si mesmo? Está a referir-se à elite partidária do arco austeritário? Está a referir-se aos grupos económicos que sobrevivem à custa de comportamentos parasitários e dependentes do Estado (vide Europarque, PPPs e injecções de capital sem condições em empresas financeiras)?

Quando ouvimos as legiões de comentadores austeritários a perorar sobre a necessidade final do austeritarismo, de tirar o biberão aos que mamam da teta do contrato social - Vítor Bento, por exemplo -, eles colocam a hipótese de ficar do lado dos excluídos? Colocam a hipótese de não terem lugar à mesa do contrato social?

Quando Fernando Alexandre, o senhor que descobriu, com financiamento da Associação Portuguesa de Seguros, que os portugueses com mais dinheiro poupam mais e que o Estado social é uma aberração, diz que é preciso modificar o sistema repartido de financiamento da Segurança Social para um sistema de capitalização e desmantelar o Estado social, está a incluir a Universidade de Coimbra, onde fez a licenciatura e o mestrado, o Birkbeck College, onde fez o doutoramento, e a Universidade do Minho, que o emprega?

Quando João Duque, o Álvaro e Vítor Gaspar afirmam que é preciso retirar o Estado da economia, que a gestão pública é sempre e necessariamente inferior à gestão privada, estão a incluir a sua própria gestão? Consideram normal e inquestionável a sua dedicação a uma causa da qual duvidam, a causa pública?

Quando Rodrigo Moita de Deus, essa esperteza peregrina que afirma a pés juntos não existir investimento público e passou à frente de Bretton Woods, diz que a austeridade vai doer (e é bom que doa, parece sugerir por trás da barba), admite que lhe poderá doer também? E Henrique Raposo? E Miguel Morgado? E José Manuel Fernandes' E Helena Matos? Estes fãs redescobertos de Malthus e Spencer defendem a eficácia e necessidade das desigualdades; colocam a hipótese de se descobrirem do lado errado do mundo polarizado que descrevem? Não vale responder que a culpa de tudo é da esquerdaesquerdaesquerda.

Quando Henrique Medina Carreira diz que as universidades estão cheias de vadios, que isto é só doutores sem utilidade, que é preciso cortar cortar cortar, admite ir para a fila de um GIP, para que um técnico lhe carimbe a apresentação quinzenal?

Está na altura de perder o respeitinho e colocar a equanimidade desta trupe austeritária em causa. Colocar perguntas simples, óbvias, estúpidas e inconvenientes.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Em defesa da dignidade, do trabalho e do Estado Social


(Por 128 cientistas sociais)

«O último ano tem sido marcado por uma catadupa de decisões políticas atentatórias das condições de vida dos cidadãos e dos serviços e apoios sociais arduamente conquistados ao longo da história, criando uma situação que é tão mais gravosa quanto ocorre num quadro de progressivo desemprego e recessão económica.

É o caso dos cortes unilaterais nos salários dos trabalhadores do Estado, da apropriação fiscal de grande parte do subsídio de Natal dos trabalhadores e pensionistas, do corte dos subsídios de Natal e de férias dos trabalhadores do sector público e dos pensionistas que, tal como o aumento do horário laboral no sector privado, estão previstos para o próximo ano, da substancial diminuição do financiamento ao Serviço Nacional de Saúde e à educação pública, ou da restrição do acesso ao subsídio de desemprego e a outras prestações sociais.

No entanto, estas opções políticas não se limitam a agravar as condições de vida dos trabalhadores, pensionistas e suas famílias, fazendo até perigar a própria subsistência de muitos deles em condições minimamente dignas.

Essas decisões são tomadas em nome do reequilíbrio das contas públicas e da necessidade de servir a dívida. No entanto, devido à recessão que já provocam e irão aprofundar, não permitirão sequer atingir esses objectivos. Dessa forma, ao sofrimento imposto a milhões de pessoas e à injustiça na repartição dos custos, vem somar-se a consciência da inutilidade de tais sacrifícios.

Mais ainda, as medidas tomadas no âmbito das políticas de “ajustamento” constituem uma brutal subversão do contrato social que permitiu à Europa libertar-se, após a II Guerra Mundial, da endémica incerteza e insegurança de vida dos seus cidadãos e, com base nisso, assegurar vivências mais dignas, uma maior equidade e níveis de paz social e segurança colectiva sem paralelo na sua história.

Ao subverterem a credibilidade e a segurança jurídica da contratação laboral e sua negociação, ao esvaziarem e restringirem os elementos de Estado Social implementados no país (pondo com isso em causa o acesso dos cidadãos à saúde, à educação e a um grau razoável e expectável de segurança no emprego, na doença, no desemprego e na velhice), essas opções políticas, apresentadas como se de inevitabilidades se tratasse, reforçam as desigualdades e injustiças sociais, abandonam os cidadãos mais directamente atingidos pela crise, e criam as condições para que a dignidade humana, os direitos de cidadania e a segurança colectiva sejam ameaçados pela generalização da incerteza, do desespero e da ausência de alternativas.

Por essas razões, os cientistas sociais signatários reafirmam que os princípios e garantias do Estado Social e da negociação consequente dos termos de trabalho não são luxos apenas viáveis em conjunturas de crescimento económico, mas sim condições básicas da dignidade e da existência colectiva, que se torna ainda mais imprescindível salvaguardar em tempos de crise. São, para além disso, elementos essenciais de qualquer estratégia credível para ultrapassar a crise e relançar o crescimento económico.

Num quadro de fortes limitações orçamentais, esse imperativo societal requer a reversão das crescentes assimetrias na distribuição de riqueza entre capital e trabalho, designadamente através da utilização de uma substancial e mais equitativa tributação dos lucros e mais-valias como fonte do reforço de financiamento dos serviços e prestações sociais.

Sendo as opções governativas em curso (e em particular a proposta de OGE 2012) contrárias a estas necessidades e atentatórias da dignidade humana e da segurança colectiva, os cientistas sociais signatários apoiam a Greve Geral convocada pela CGTP-IN e a UGT para o próximo dia 24 de Novembro, apelando aos seus concidadãos para que a ela adiram.

Tratando-se embora de uma acção a nível nacional, os signatários saúdam também esta Greve Geral como um momento do combate europeu contra as políticas de austeridade e de regressão social, a favor de mudanças na política europeia que coloquem no centro os cidadãos, o crescimento económico, o desenvolvimento e a defesa da Europa Social e da democracia.»

Os cientistas sociais:
Alan Stoleroff (ISCTE-IUL), Alexandre Abreu (CEG-UL), Amanda Guapo (IELT-UNL), Ambra Formenti (ICS-UL), Ana Benard da Costa (ISCTE-IUL), Ana Benavente (ULHT), Ana Cordeiro Santos (CES-UC), Ana Costa (ISCTE-IUL), Ana Cristina Ferreira (ISCTE-IUL), Ana Cristina Santos (CES-UC), Ana Delicado (ICS-UL), Ana Horta (ICS-UL), Ana Margarida Esteves (Tulane Un.), Ana Paula Guimarães (FCSH-UNL), Anne Cova (ICS-UL), António Brandão Moniz (FCT-UNL), António Carlos Santos (UAL), António Galamba (antr.), António Monteiro Cardoso (CEHCP-IUL), Britta Baumgarten (CIES-IUL), Carlos Augusto Ribeiro (FCSH-UNL), Carlos Pedro (antr.), Carlos Rodrigues (UA), Catarina Casanova (ISCSP-UTL), Cícero Pereira (ICS-UL), Clara Saraiva (FCSH-UNL), Cristina Santinho (CRIA), Dulce Simões (INET-UNL), Elisabete Figueiredo (UA), Elísio Estanque (CES-UC), Elsa Peralta (ICS-UL), Emília Margarida Marques (CRIA), Francisca Alves-Cardoso (FCSH-UNL), Frédéric Vidal (CRIA), Giovanni Alves (CES-UC), Gonçalo Santinha (UA), Graça Videira Lopes (FCSH-UNL), Guilherme Fonseca-Statter (CEA-IUL), Guya Accornero (CIES-IUL), Helena Lopes (ISCTE-IUL), Henrique Sousa (FCSH-UNL), Hermes Costa (CES-UC), Hugo Dias (CES-UC), Inês Godinho (antr.), Inês Sachetti (UCLA), Irene Flunser Pimentel (hist.), Isabel Cardigos (FCSH-UA), João Areosa (soc.), João Edral (IELT-UNL), João Estevão (ISEG-UTL), João Ferrão (ICS-UL), João Leal (FCSH-UNL), João Luís Lisboa (FCSH-UNL), João Paulo Dias (CES-UC), João Pedroso (FE-UC), João Pina Cabral (ICS-UL), João Rodrigues (CES-UC), João Seixas (ICS-UL), João Teixeira Lopes (FL-UP), João Vasconcelos (ICS-UL), Jorge Carvalho (UA), Jorge Malheiros (IGOT-UL), José António Fernandes Dias (FBA – UL), José Carlos Mota (UA), José Castro Caldas (CES-UC), José Gabriel Pereira Bastos (CRIA), José Manuel Cordeiro (ICS-UM), José Manuel Pureza (CES-UC), José Manuel Rolo (ICS-UL), José Manuel Sobral (ICS-UL), José Mapril (CRIA), José Neves (FCSH-UNL), Lourenzo Bordonaro (CRIA), Luís Silva (CRIA), Luís de Sousa (ICS-UL), Luís Souta (ESSE-IPS), Luísa Lima (ISCTE-IUL), Luísa Oliveira (ISCTE-IUL), Luísa Schmidt (ICS-UL), Luísa Tiago de Oliveira (ISCTE-IUL), Manuel Carlos Silva (ICS-UM), Manuel Couret Branco (UE), Manuel Loff (hist.), Manuela Ivone Cunha (UM), Margarida Paredes (CRIA), Margarida Pereira (FCSH-UNL), Margarida Perestrelo (ISCTE-IUL), Maria Cardeira da Silva (FCSH-UNL), Maria Clara Murteira (FE-UC), Maria Eduarda Gonçalves (ISCTE-IUL), Maria Fátima Ferreiro (ISCTE-IUL), Maria Inácia Rezola (IHC-UNL), Maria Inês Amaro (FCH-UCP), Maria João Freitas (LNEC), Maria José Casa-Nova (UM), Maria Luís Pinto (UA), Maria da Paz Campos Lima (ISCTE-IUL), Mário Vale (IGOT-UL), Marlene Rodrigues (CPES-ULHT), Marta Prista (FCSH-UNL), Marzia Grassi (ICS-UL), Mauro Serapioni (CES-UC), Michel Binet (CL-UNL), Micol Brazzabeni (CRIA), Miguel Cardina (CES-UC), Miguel Vale de Almeida (ISCTE-IUL), Mónica Truningen (ICS-UL), Nuno Domingos (ICS-UL), Nuno Martins (UCP), Oriana Alves (IELT-UNL), Patrícia Alves Matos (CRIA), Paulo Castro (ISCTE-IUL), Paula Godinho (FCSH-UNL), Paulo Alves (ISCTE-IUL), Paulo Castro Seixas (ISCSP-UTL), Paulo Granjo (ICS-UL), Paulo Mendes (UTAD), Paulo Peixoto (FE-UC), Paulo Raposo (ISCTE-IUL), Pedro Aires Oliveira (FCSH-UNL), Pedro Hespanha (CES-UC), Raquel Rego (ISEG-UTL), Raúl Lopes (ISCTE-IUL), Renato Carmo (ISCTE-IUL), Ricardo Sequeiros Coelho (CES-UC), Ricardo Paes Mamede, Rita Poloni (ICS-UL), Rosa Maria Perez (ISCTE-IUL), Rui Bebiano (CES-UC), Rui Tavares (hist.), Ruy Blanes (ICS-UL), Sanda Samitca (ICS-UL), Sara Falcão Casaca (ISEG-UTL), Sílvia Portugal (CES-UC), Sofia Aboim (ICS-UL), Sofia Sampaio (CRIA), Sónia Bernardes (ISCTE-IUL), Sónia Ferreira (FCSH-UNL), Sónia Vespeira Almeida (CRIA), Susana Boletas (ICS-UL), Susana Durão (ICS-UL), Teresa Albino (IICT), Teresa Carvalho (UA), Teresa Santos (ICS-UL), Tiago Correia (CIES-IUL), Tiago Saraiva (ICS-UL), Vera Borges (ICS-UL), Virgílio Amaral (CES-UC), Vitor Ferreira (ICS-UL), Vitor Neves (FE-UC)

24 de Novembro :: GREVE GERAL! Em Toda a Parte.


Manifestações:  
Lisboa: 14h30, Marquês de Pombal
Porto: 15h, Praça da Liberdade 

Austeridade, cortes, desemprego, sacrifícios, direitos perdidos. São as palavras de que se vai fazendo o nosso quotidiano, e todos os dias a fasquia do inadmissível desce mais um bocadinho. Dizem-nos que o nosso desígnio é empobrecer, que o desemprego é uma zona de conforto, que emigrar é a solução — os mesmos que nos dizem há muito tempo que vivemos acima das nossas possibilidades, que a dívida é transparente, e que o suicídio consentido do nosso tecido social e económico é a panaceia que «acalmará» os insaciáveis mercados. Mas que se esquecem sempre de incluir nas contas da inevitabilidade os resgates aos bancos, o dinheiro escondido em paraísos fiscais, a negociata das PPP ou as receitas que o Estado poderia recolher através de uma política fiscal justa e progressiva, que taxasse lucros exorbitantes e grandes fortunas com a mesma voracidade com que aumenta a taxa de IVA na cultura.

Entretanto, a democracia na Europa reduz-se a juntas austeritárias, com o objectivo único de aplicar a sangria da austeridade, e nós vemos, todos os dias e em toda a parte, que essa austeridade é sinónimo de miséria, desemprego, desespero. Dizem-nos também que a Grécia não é aqui, quando é óbvio que ela está cada vez mais perto. E contam com a tua complacência, o teu silêncio, o teu encolher de ombros para que da Grécia chegue apenas o descalabro inevitável, e não o exemplo de resistência. Nós dizemos que inevitável é a resistência, porque dela depende não só o teu emprego, o teu salário, a tua escola, o teu futuro, mas também a própria democracia.
Por tudo isto, no dia 24, fazemos Greve Geral. Trabalhemos com ou sem contrato, com um vínculo menos ou mais precário, na função pública, no comércio, ou com aberrações laborais como bolsas de investigação. E, porque a greve é de todas e todos, não esquecemos que há cada vez mais quem esteja no desemprego, trabalhe num contexto imposto de ilegalização, se tenha reformado, trabalhe por conta própria, estude (ou não possa estudar), ou tenha um contrário tão precário que exclui direitos garantidos na Constituição... e marcamos encontro na rua.

Se te recusas a ser cúmplice duma sociedade em que 1% da riqueza se sobrepõe aos direitos mais básicos de 99% das pessoas, e queres dizê-lo a alto e bom som, vem ter connosco ao Marquês de Pombal, às 14h30, em Lisboa (ou à Praça da Liberdade, às 15h, se estiveres no Porto). Vamos ter com a concentração da União de Sindicatos de Lisboa no Rossio, e seguimos juntos, no meio da diversidade de vozes e experiências que somos, para São Bento. Os frutos da resignação estão à vista, se ainda tinhas dúvidas. Vamos mostrar-lhes que somos a alternativa que eles dizem que não existe?

domingo, 13 de novembro de 2011

Palavra do ano 2012?

A minha aposta vai para tecnocracia / tecnocratas.

PS. O artigo da Spiked define bem os governos de Papademos e Monti: juntas austeritárias.

A breve fraqueza dos fortes

Ao explicar hoje na RTP a nova situação política italiana, o repórter Noé Monteiro hesitou numa palavra. Falava então da queda de Berlusconi e da sua sucessão por Mario Monti. Monti, o tecnocrata preferido pelos mercados que foi comissário europeu durante um par de anos, prepara-se para ser convidado a formar governo pelo presidente Giorgio Napolitano. Portanto, frisava o repórter, não estão pensadas eleições na sequência desta mudança, ao contrário que é norma em regimes... "democráticos". De facto, e independentemente do asco que se possa e deva sentir por Berlusconi, a actual ultrapassagem da democracia pelo regime dos credores não é coisa de somenos. Tal como os referendos, as eleições actualmente tendem a ser vistas com bons olhos apenas se não atrapalharem. Neste novo regime a que também já se chamou "pós-democrático", expressões como "governo técnico" - com o qual se pretenderá crismar o "governo Monti" -, "saneamento das contas públicas", "combate ao défice", "remoção das gorduras do Estado" erguem-se como um novo senso comum. E tudo isto numa sopa populista que identifica a "democracia" com os "políticos" e estes com o "estado a que isto chegou". A Grécia e a Itália estão a dar-nos o sinal: a democracia é um resíduo espúrio que os senhores da finança, ancorados no eixo franco-alemão, não têm dificuldades em descartar se for essa a melhor forma de, para utilizar um eufemismo que agradaria a Cavaco Silva, "empobrecer dignamente". Obrigada a dar-se a ver desta forma, a força dos fortes tem, contudo, a fraqueza dos gestos impositivos. Talvez os italianos o percebam mais rápido do que se pensa.

sábado, 5 de novembro de 2011

Das alimárias e dos tabus

Torna-se difícil ouvi-los. É uma geração de líderes que ficará nos anais da história europeia, caso reste algum e a história não seja descartada por não ter valor de mercado, pela estupidez definitiva com que geriu a trapalhada na qual o continente foi enfiado. Utilizo, para os devidos efeitos, a noção de estupidez oferecida por Carlo Cipolla:
Uma pessoa é estúpida se causar prejuízo a alguém ou a um grupo de pessoas sem derivar benefício pessoal ou, ainda pior, causando prejuízo a si mesma.
O teatro moral desta semana revelou, qual tragédia de fraca qualidade, o alcance da estupidez, assim definida, de Merkel e Sarkozy. A manobra de Papandreou acicatou as suas reacções ferozes. Temem, obviamente, a voz dos seres humanos que compõem essa Europa; a eurocracia recorda, com mau gosto na boca, os referendos ao Tratado de Lisboa. Nada disto foi surpreendente: a esquerda europeia (que exclui o PS, entenda-se) também não mostrou um consenso em torno da proposta do PM grego. Nem poderia mostrar. Tratou-se de uma manobra acrobática que resultou mal e o povo grego continua sem ser tido nem achado.

Não. O que me surpreendeu - e estou a tentar compreender a realidade do ponto de vista austeritário - foi a quebra de um tabu que também revela a iliteracia política destas elites anafadas. Merkel e Sarkozy abordaram o tema da permanência na UEM. O seu apoio deixou de ser incondicional e ficou implícito que, nos departamentos de análise política e económica de Paris e Berlim, já foram construídos modelos e propostos cenários em que a zona euro pode ter o seu número de membros reduzido. Ou seja, uma zona euro onde a língua franca é o alemão.

A Comissão Europeia, pelo que percebi, tentou arrefecer os ânimos, afirmando que não existem provisões, no acquis comunitário, para a saída voluntária ou expulsão da UEM sem movimento análogo relativo à UE. Um problema: não existem provisões para saídas voluntárias ou expulsões. Se quiserem dar um chuto no rabo grego, as chancelarias de Paris, Berlim, Amesterdão e Viena precisarão de reescrever o Tratado a grande velocidade.

A pergunta: por que razão quebraram o tabu? A economia moral da dívida e o velho espírito do capitalismo presidiram à decisão de fazer declarações que terão consequências terríveis?

Talvez não. Talvez sejam apenas alimárias iletradas e cipollicamente estúpidas, traços em que não diferem das musas Barroso, Juncker, van Rompuy e Trichet. Não percebem o que é uma união monetária e não entendem que o euro é uma construção política defeituosa. Na verdade, nem me admiraria se reescrevessem o tratado sem mexer na no-bailout clause e se deixassem os estatutos do BCE como estão.

As consequências é que não esperarão muito tempo. Quebrado o tabu, é uma questão de tempo até alguém, algures em Wall Street, começar a testar as águas. Liquidez excessiva? Venham até nós, swaps; é agora que o Mediterrâneo vai ao fundo.

Alguém tem um colete salva-vidas?

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pedido de Abertura de Inquérito e de Condenação Pública da Agressão Policial


Ao Ministério da Administração Interna (MAI)

Ao Inspector-Geral da Administração Interna (IGAI)

Pedido de abertura de inquérito e de condenação pública da agressão policial

Exmos/as Srs/as,

No dia 15 de Outubro de 2011, em São Bento, reclamávamos por uma democracia verdadeira, ao mesmo tempo que na Arrentela a actual democracia espalhava o terrorismo social, através da brutalidade e violência policial. Por volta das 22 horas, a  polícia agrediu, violentou e brutalizou diversas pessoas.
Tudo aconteceu após uma festa do primeiro aniversário de um bebé do bairro, nas instalações da Associação Khapaz, que terminou pelas 22 horas.  Algumas pessoas permaneceram no jardim a conviver, o que motivou uma denúncia à polícia, tendo esta respondido com uma intervenção altamente agressiva, corporizada, violenta, sexista e racista. Esta forma de intervenção policial, que se verifica diversas vezes, ocorre numa lógica de criminalização da pobreza, da miséria e da vulnerabilidade social e económica, especialmente quando se trata de pessoas negras, ciganas e brancas pobres. Pobreza essa promovida e estruturada por um modelo neoliberal que relega as pessoas para o desemprego em massas e que tem nos bairros pobres mão-de-obra escrava e barata.
A polícia, instrumento de acção repressiva directa do Estado, promove a violência policial no espaço público, sobretudo contra classes sócio-económicas desfavorecidas e contra as pessoas migrantes e as mulheres. Neste sentido assistimos a um investimento no Estado policial[1] e por outro lado a um desinvestimento no Estado social.
No vídeo feito por uma pessoa que se encontra no local[2] e que mostra parte do que aconteceu, identificamos facilmente que tanto os homens como as mulheres são alvo da violência policial e, consequentemente, da violência do Estado. Basta ocuparem o espaço público para serem potenciais vítimas, o que rompe com a ideia estereotipada de que a violência policial incide sobre jovens, negros, do sexo masculino. Tal como os homens, o que vemos e facilmente identificamos são mulheres a serem brutalmente agredidas pela polícia, diante dos filhos e filhas – o que terá impacto inegável no desenvolvimento destas crianças e jovens. Não é por acaso que este tipo de intervenções policiais incide sobre comunidades vulneráveis e, em particular, sobre as mulheres - que têm associadas a si discriminações múltiplas, pelo simples facto de serem mulheres, por serem negras e por morarem num território social e economicamente estigmatizado.
Esta polícia sustentada por uma corrente de tolerância zero e de criminalização da miséria não é compatível com um modelo social democrático real e não é compatível com uma sociedade equilibrada, justa e equitativa., tal como definido na Constituição da República Portuguesa.

Como tal, solicitamos, ao MAI e ao IGAI, abertura de inquérito sobre esta actuação, bem como condenação pública do abuso de poder policial.

As associações,
UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta e KHAPAZ

Subscrevem:
ACED - Associação Contra a Exclusão Pelo Desenvolvimento
APPT - Associação Portuguesa para a Prevenção da Tortura
Associação Cultural Moinho da Juventude
Associação Lusofonia Cultura e Cidadania
ATTAC Portugal
Casa do Brasil em Lisboa
ComuniDária – Associação de Integração de Migrantes e Minorias Étnicas
GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
GIP - Grupo de Intervenção nas Prisões
JURE - Associação Juvenil Jovens Unidos Rumo à Esperança
não te prives – Associação de Defesa dos Direitos Sexuais
Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia
Portugal Uncut
Precári@s Inflexíveis
Solidariedade Imigrante -Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes
SOS Racismo

Alexandra Oliveira, FPCE-UP
Almerinda Bento, Professora aposentada
Ana Cristina Santos, Centro de Estudos Sociais, UC
Ana Estevens, doutoranda do IGOT- UL
André Carmo, investigador CEG-UL
Andrea Inocêncio, Artista Plástica e Professora Assistente
António Monteiro Cardoso, jurista, professor ESCS-IPL
António Pedro Dores, ISCTE
António Serzedelo, Opus Gay, Vidas Alternativas
Catarina Moreira, Socióloga
Catarina Paulo Leal, Professora
Chullage, Músico, Activista, Sociólogo
Cláudia Múrias, Psicóloga, Investigadora UP
Conceição Nogueira, Professora Escola de Psicologia, UM
Cristina Pires, Técnica de Política Social
Dália Costa, ISCSP
Diana Andringa, Jornalista
Elsa Sertório, Tradutora
Fabiana Lopes Coelho, Directora de Comunicação e Marketing
Filipe Canha, Artista Visual, Performer
Gabriela Mota Vieira, Enfermeira
Helena Pinto, GIP
Helena Romão, Musicóloga
Hugo Monteiro, ESE Porto
Inês Galvão, Antropóloga
Isabel Rodrigues, Administrativa
João Manuel de Oliveira, U.Minho/Birkbeck College, U. London
José Manuel Fernandes, Professor do Ensino Secundário
José Soeiro, Sociólogo
Lucília José Justino, Professora ESCS-IPL
Luís Filipe da Cruz Pereira, Formador aposentado
Magda Alves, Socióloga
Mamadou Ba, dirigente associativo
Manuel Almeida dos Santos, Engenheiro
Manuela Góis, professora aposentada
Manuela Tavares, Investigadora em Estudos sobre as Mulheres
Mara Sé, GAIA
Margarida Paredes, Antropóloga
Maria Helena Leite Dias, Jurista
Maria Helena Santos, Psicóloga Social
Mariana Avelãs, Tradutora
Marta Lança, Editora Buala
Miguel Cardina, Historiador
Miguel Vale de Almeida, ISCTE/IUL
Mónica Guerreiro, Investigadora em Ciências da Comunicação, FCSH-UL
Nádia Cantanhede, Psicóloga Clínica
Nilzete Pacheco, ALCC
Otavio Raposo, Sociólogo
Paula Godinho, FCSH-UNL
Paulo Jorge Vieira, Investigador CEG-UL
Pedro Bacelar de Vasconcelos, Professor de Direito
Pedro Rainha, Estudante
Raquel Levy, Licenciada em Ciências da Educação
Ricardo Loureiro, Sociólogo
Ricardo Noronha, Investigador IHC, FCSH-UNL
Rita Silva, Grupo Direito à Habitação da SOLIM, Psicóloga Comunitária
Rui Bebiano, FLUC, CES, Director do Centro de Documentação 25 de Abril
Salomé Coelho, Psicóloga
Susana Boletas, Doutoranda em Antropologia
Teresa Cunha, ESE Coimbra
Tiago Landreiras, Estudante, UCP
Vera Santana, Socióloga
(subscrições continuam abertas. enviar informações para umarfeminismos@gmail.com)
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[1] Por ex.: “MAI atribui 11 milhões a polícias” - http://economico.sapo.pt/noticias/mai-atribui-11-milhoes-a-policias_129514.html
[2] Ver vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=zIT761aGauE&feature=share